Na ocasião, Bolsonaro repetiu teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditou o sistema eleitoral e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal)
Ricardo Della Coletta , Cézar Feitoza , Marianna Holanda e Matheus Teixeira
Brasília, DF
Embaixadores estrangeiros ouvidos pela Folha definiram a apresentação do presidente Jair Bolsonaro (PL) na tarde desta segunda-feira (18) como uma “tática trumpista” para desviar o foco ou mesmo para preparar o terreno para o questionamento das eleições.
O mandatário realizou no Palácio da Alvorada um encontro com dezenas de chefes de missão diplomática em Brasília. Na ocasião, Bolsonaro repetiu teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditou o sistema eleitoral e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ele concentrou suas críticas nos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Para Bolsonaro, o grupo quer trazer instabilidade ao país.
A tática trumpista é uma referência ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, admirado por Bolsonaro. Derrotado por Joe Biden, Trump insuflou teorias conspiratórias de que o pleito foi fraudado e foi peça central no episódio que resultou na invasão do Congresso americano, no início do ano passado.
Após a palestra, que durou cerca de 50 minutos, a Folha conversou com diplomatas estrangeiros que estiveram no Palácio da Alvorada. Eles falaram sob condição de anonimato, por não estarem autorizados a comentar temas de política interna brasileira.
O primeiro ponto, ressaltaram, é que as declarações de Bolsonaro não devem mudar a opinião das missões sediadas em Brasília. As equipes diplomáticas acompanham e reportam às respectivas capitais falas do presidente todos os dias e o conteúdo apresentado no Alvorada pouco divergiu de ataques anteriores contra o TSE perpetrados pelo mandatário.
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A avaliação dos diplomatas estrangeiros ouvidos é que Bolsonaro, com o evento, tentou desviar o foco de problemas que afetam seu governo, como inflação e o preço dos combustíveis, ao mesmo tempo em que reforçou a narrativa que pode ser empregada para questionar o resultado das urnas em caso de derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dois dos embaixadores ouvidos definiram a estratégia de Bolsonaro como “tática trumpista.”
Também destacaram que, embora a audiência fosse a comunidade diplomática, a mensagem transmitida por Bolsonaro era voltada para seus eleitores mais radicais, que puderam acompanhar o evento pelas redes sociais.
Outro ponto que chamou atenção dos presentes foi o amadorismo da apresentação de PowerPoint.
Além de personalista, com fotos do presidente em motociatas pelo país, um dos slides continha um erro gramatical na palavra “briefing” (grafada no Alvorada com um ‘n’ a mais).
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Um dos diplomatas consultados também destacou que o presidente ressaltou, na fala, que o Brasil é responsável pela segurança alimentar de grande parte da população do planeta —declaração entendida como um alerta contra interferências em assuntos domésticos no Brasil.
A percepção de que Bolsonaro empregou uma estratégia trumpista não foi unânime entre os embaixadores.
Parte do grupo considera os questionamentos levantados por Bolsonaro bem fundamentados e saiu do Alvorada com suas dúvidas contra as urnas reforçadas.
Após a reunião, o embaixador da Suíça no Brasil, Pietro Lazzeri, afirmou pelas redes sociais que deseja que as eleições brasileiras sejam uma comemoração da democracia.
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“Participei hoje no Palácio da Alvorada do encontro do Presidente da República com Chefes de Missão Diplomática. No ano do Bicentenário do Brasil, desejamos ao povo brasileiro que as próximas eleições sejam mais uma celebração da democracia e das instituições.”
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